Tendo vivido como vivi, gasto o tempo como o gastei, ganhando e perdendo amigos o difícil foi mesmo ter-te perdido como perdi. Durante anos falámos diariamente sobre tudo e sobre nada, entreolhávamo-nos com cumplicidade sem nunca termos trocado palavra sobre assunto sério e delicado. Eras uma princesa e eu teu escravo.
Juntos na escola e na saída, ao fim de tarde e no cinema, no passeio e na praia. Viciei-me em ti. Pensei-te tantas horas que a distância que numa altura nos separou fez como se amor fosse doença sem cura, sono sem dormir, noite de fantasmas e pesadelos. Torturei-me até à negação da minha existência. Virei lugar comum, parte insignificante do tempo.
Compliquei-me na multiplicação dos queres. Queria o que não tinha e esquecia o que considerava certo. Afoguei-me na realidade no dia que viraste-me as costa como se eu nunca tivesse existido. Desmultipliquei-me em desculpas e perdões e quem sentiu mais falta de mim fui eu.
Nunca soube, depois desse dia, como olhavas o espelho ou o que pensavas. Nem hoje o sei e sei que nem amanhã saberei, porque é teu timbre, se sofreste o fizeste sozinha e se não, não o disseste também a ninguém.
Foste feliz? Não sei.
Apenas sei que muitas alegrias, muitas quedas, muitas lágrimas e gargalhadas depois eu sei sorrir e olhar para trás e dizer: fui vivo e estou-o, feliz comigo agora, depois de não saber se sobreviveria sem ti.
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