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19 de abril de 2007

No silêncio das palavras

Hoje preferes estar sentada a ver o zulmarinho se embalando num vai e vem interminável? Pois fiquemos então aqui sentados nesta areia de mil cores, olhos postos no lá longe como quem quer ver mais mas ao mesmo tempo quer viajar ao sabor do pensamento sem esforço e canseiras.
Como sabes, numa coisa que parece anormal, eu quando acordo a primeira coisa que penso é nela. É ela que me vem à cabeça na coincidência de abrir de olhos. Há assim como que um segundo para me localizar. Depois durante o dia não me sai o ela de agora, o ela actual e não o ela dos tempos da maria-cachucha. Durante o dia procuro não perdê-la da vista e à noite lhe vejo como que se estivesse à luz das velas. Vais dizer é obsessão e eu te respondo que é a maneira de estar vivo, é a maneira de andar na minha verticalidade, a maneira de esperar o amanhã com um sorriso nos lábios.
Quando estou aqui sentado eu lhe sinto a brisa, a frescura do cacimbo, a quentura das suas gentes. Aqui sentado eu lhe ouço os pregões e lhe vejo os movimentos. Aqui tem momentos em que eu quero ficar mudo num silêncio de ver mais nítido, de sentir mais sentido. Daqui as cores garridas são mais tropicais, a sua luz me fere o tacto de não lhe poder tocar.
Por tudo isto tem dias em que prefiro ficar aqui sentado no silêncio das minhas palavras.

Sanzalando

3 comentários:

  1. Como o zulmarinho deve ser admirável, embalando o sabor do nosso querer determinado e constante? Embalando o precioso pensamento, restrito a cada pessoa, a cada silêncio isento de discursos intermináveis e sem nexo, sem sentido. Saudades de África, da bela África que eu desconheço? Que desconheço, infelizmente. Sobressalta-me o embaraço quando diz, quando se interroga, se será uma obsessão? Não! Pode crer. É como acredita na forma de "estar vivo" e, eu acredito. Fascina-me a ternura como os que viveram uma vida nesse Continente, tão perto e tão longe ao mesmo tempo, nem que seja no coração, falam dela, com tanto amor. Tanto deslumbre. Deve ser algo de fabuloso, como a forma empolgante e ao mesmo tempo, significativa de um amor intenso(na magia romântica da luz das velas) sobre que disserta essa pérola preciosa, que é África. Por falar do pensamento, no "cacimbo" e na "quentura das suas gentes", hoje a minha receptividade e lição de uma vida orienta-se na sua direcção, no seu conhecimento, no uso da sua palavra ou no uso do seu silêncio. A maravilha silencia. Escuta. Observa. Procura entender. Hoje silencio-me. Escuto atentamente. Observo palavras. Procuro entender. Procuro compreender e, procuro compreender uma vida intensa. Terna. Doce. Com sentido e significação.
    Delicioso de digerir este silêncio de palavras precisas ou imprecisas.! Lindo por encantar a sua vida e do que gosta, mesmo "no silêncio das palavras". Quem gosta, sente e vive, com esta intensidade o amor do zulmarinho, vive eternamente. Creio. Pergunte-Lhe. Quero crer que sim.
    Com respeito e estima
    Abraço
    Poliedro

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  2. Desculpe a enorme quantidade de palavras, mas o seu amor silencioso e autêntico não podiam passar-me indiferentes, bem como, a magia do seu "jogo" notável de frases magnificamente estruturadas. Acredito sinceramente que faz parte integrante de si.
    Um abraço
    pena

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  3. Consciência, memória ou simplesmente lembrança?
    Não tem importância.
    O que importa é que o zulmarinho além de lindo é tocável.
    Um beijo.
    3,14

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