Rádio Portimão
Podcasts no Spotify
- podcast no spotify
- K'arranca às quartas
- Felizmente há luar
- Livro do Desassossego
- Dia Mundial da Poesia
- Caminhos Imperfeitos
- Os transparentes
- Jaime Bunda Pepetela
- Portugal e o Futuro
- Programa 14
- Amores e Saudades de um Português Arreliado
- A Bicicleta que Tinha Bigodes
- O Avesso - Graça de Sousa
- Conto dos Cães e Maus Lobos
- Chamas de Amor
- Trilogia de Anabela Quelhas
- Programa 24
- Tesourinho Musical
- Sarmento de Beires e sua obra
- Programa 25
- Crónica 15
- Miguel Torga
- Crónica 16
- Tesourinho Musical 2
- Programa 26
- Programa 27
- Crónica 17
- Tesourinos Musicais 4 os Ekos
- Programa 28
- Posso dar-te uma Palavra?
- Crónica 18
- Tesourinho Musical 5 - Chinchilas
- Programa 29
- Saramago no texto de Anabela Quelhas
- Tesourinho Musical 6 - Conjunto Mistério
- Programa 30
- Crónica 19
- Algarve em Transe
- Tesourinho Musical 7 Tony de Matos
- Programa 31
- Crónica 20
- Livro - Sangrada Família
- Tesourinho Musical 8 - Sheiks
- Programa 32
- Crónica 21
- Manuel da Fonseca
- Tesourinho Musical 9 - Night Stars
- Programa 33
- Crónica 22
- Mia Couto -Terra Sonâmbula
- Tesourinho Musical 10 - Conj. António Mafra
- Programa 34
- Crónica 23
- As três Vidas - João Tordo - Livro
- Tesourinho Musical 11
- Programa 35
- Crónica 24
- Guilherme de Melo - Autor
- Tesourinhos Musicais - Os Álamos
- Programa 36
- eu e a cidade
- Crónica 25
- A Casa dos Budas Ditosos - João Ubaldo
- Tesourinhos musicais - Os Gambuzinos
- Programa 37
- Ruy Duarte de Carvalho - Autor
- Crónica 26
- Microfone Livre 02
- Tesourinhos musicais 14 - Blusões Negros
- Programa 39
- Tesourinhos Musicais 16
- Crónica 28
- Bambino a Roma - o livro
- Programa 40
- Crónica 29
- Luís Fernando Veríssimo - 2 livros
- Tesourinhos Musicais - Madalena Iglésias
- Os Maias - Eça de Queiróz
- Crónica 30
- Microfone livre 05 - Graig Rogers
- Programa 41
- Tesourinho Musical 18 - Conjunto Académico João Paulo
- Programa 43
- Tesourinhos Musicais - Os Kiezos
- As Intermitências da Morte - Saramago
- Crónica 32
- Programa 44
- Circulando aos Quadrados por Anabela Quelhas
- Tesourinhos Musicais 20 - Os Ekos
- Crónica 33
- Programa 45
- Crónica 34
- Tesourinhos Musicais 21 - Conjunto Mistério
- Manuel Rui Monteiro - Quem me dera ser Onda
- Programa 46
- Crónica 35
- Tesourinhos musicais 22 - N'Gola Ritmos
- Anibalivro Rui Zink
- Programa 47
- Crónica 36
- Tesourinhos Musicais 23 - Os Joviais
- Manuel Teixeira Gomes - Gente Singular
- Programa 48
- Crónica 37
- Tesourinhos musicais 24 - Quarteto 1111
- Jamina Ann da Silva - Mensagens Encantadas
Programas K'arranca às Quartas no Blog
- Programa K'arranca às Quartas
- Programa 21
- Programa 22
- Programa 23
- Programa 24
- Programa 25
- Programa 26
- Programa 27
- Programa 28
- Programa 29
- Programa 30
- Programa 31
- Programa 32
- Programa 33
- Programa 34
- Programa 35
- Programa 36
- Programa 37
- Programa 39
- Programa 40
- Programa 41
- Programa 42
- Programa 43
- Programa 44
- Programa 45
- Programa 46
- Programa 47
- Programa 48
31 de maio de 2021
filosofia do pedal
Sigo pedalando pela cidade feito um vazio mental. Tiro as mãos do guiador para sentir que não domino por completo a situação e para saber que qualquer distorção do meu corpo me levará ao chão. Pedalo na instabilidade para me sentir vivo mesmo que os meus olhos de um momento para outro possam parecer os de um morto que não sabe que lhe aconteceu. Pedalo vagabundo pelas ruas desertas da minha cidade. A minha cidade é deserta. Deve ser da hora ou somente se resguardam à minha passagem ou simplesmente sou eu que não quer ver ninguém. Pedalo porque sim ou talvez mais porque não me apetece ficar estático a olhar o céu azul que até pode estar cinzento chuvoso.
Sigo pedalando porque a vida que eu vivo apenas depende de mim como a sinto.
30 de maio de 2021
29 de maio de 2021
aqui e agora
Devo ficar na rotina da vida ou deixar-me ir ao sabor da aventura? Na verdade eu não quero magoar-me nem me queixar da dor da incerteza. Dilemas do quotidiano dum ser que pensa sem insultar, que observa sem criticar, que diz sem magoar e que por simples gestos que não tive, é magoado. Gestos que não só não tive como acho que nem deveriam nunca ter sido pensados. Dilemas do quotidiano.
Há quem pensa que eu não me encontrei. Há quem pensa que eu penso os pensamentos dos outros. Há quem veja vaidade no falar e estar simples duma vida escolhida simplesmente.
Fui e serei sempre o eu, com correcções, erros e omissões. Ser humano na minha particularidade.
Todas as mudanças na minha vida acho que foram necessárias. Voluntária ou obrigatóriamente tive que fazê-las. Optimo. Hoje estou neste aqui e agora, ave voando por sobre a terra redonda observando. Livro com palavras sábias de experiências sentidas. Ouvidos ouvindo melodias que às vezes vêm dum ruído chamado silêncio.
Felizmente aqui estou agora, gastando palavras sentidas.
28 de maio de 2021
altos e baixos são
E para não perder a pedalada lá vou eu escrevendo. Umas vezes para não me esquecer, outras para ocupar a minha mente e outras para dizer apenas que estou aqui.
Tem dias que apetece dizer desisto, independentemente de ser segunda, sexta ou sábado. Tem dias parece o encanto desapareceu e o escuro entra. Com calma me vou dizendo que logo passa, incluindo o tempo.
Um dia parece tudo mudou, me reencontro, as segundas são segundas e as sextas sextas são. Se é para rir riu-me se não o é não o faço.
Assim são os altos e baixos dias de vida. Assim são as palavras que levo comigo papel abaixo, às vezes com letra que nem consigo reler e re-invento, outras vezes com letra tão bem desenhada que até parece a antiga caligrafia que havia nas escolas do antigamente.
Hoje é sexta feira e fico-me por aqui nestas letras, palavras e parágrafos apenas para saberem que estou por aqui, ao sol, se o fizer.
27 de maio de 2021
imensurável
Tentando esquecer a luta que me ligou nestes tempos a uma escrita descritiva e inventada duma vida amorosa, desvio-me por palavras para outras paragens tentando mudar de rumo e forma.
Há muito para viver na vida por mais vida que já tenha passado, como há tanto amor para dar apesar do já dado. Haja palavras e vontade, haja céu e capacidade de o ver ou estrelas na noite para admirar.
Há tempo para dar tempo ao resto da minha vida e ser feliz na forma e desejo.
Tudo é possível porque a capacidade humana é imensurável
26 de maio de 2021
e se termina
Agora que já te contei a minha estória de amor por ti, passados anos de tudo ter sido uma verdade que imaginei, uma novela que vivi nas noites serenas da solidão, tu, minha conterra de opção e não de nascimento, deves imaginar que enlouqueci, que perdi ao longo da vida s coisas boas de mim e que desperdicei uma vida.
Na verdade, na vida, há três coisas muito importantes: o quanto amei; o quanto consegui fazer feliz alguém; e as coisas que me arrependi por não ter feito por mim ou por outrem.
Tive paciência por quem sou, esperei por aquilo de construi e sarei dores que senti. Tenho uma estória de amor completa mesmo que haja capítulos por escrever, por esquecer ou por viver.
Conterra, da tua parte, do teu porto seguro eu sei nada e nada quero continuar a saber porque assim não terei fantasias nem pesadelos por tentar mudar o tempo passado e viver um novo futuro que por ser incerto seria secreto.
Fui feliz porque resolvi problemas de memória, geógrafo de palavras e mapeador de vivências.
25 de maio de 2021
sol brilhante
O sol brilha parece quer dar colorido ao dia e consequente à minha vida. Uma ou outra nuvem do céu para me lembrar as festas do mar e o meu adorável algodão doce. O movimento das ruas a me recordar o que é a vida, azáfama e movimento mesmo que tenha gente a correr para lado nenhum. Um grupo de pessoas conversa numa algarviada imperceptível na esquina deste cruzamento como que a me fazer recordar as minhas esquinas da vida onde perdi ganhando horas de vidas.
Faz sol a cada momento deste brilhante tempo que aqui, no teus lados de porto seguro, chamam verão. Lá nos nossos lados era tempo do calor, tempo de ir à praia, tempo de saídas à noite quanto mais não seja para ver coelhos a saltar e a tentar nos fintas nas suas curvas apertadas para a gente não lhes acertar.
Faz sol e eu não faço a mínima ideia de como é o teu aspecto agora. Estou certo, sem medo de errar que mantens o corpo esguio, altamente belo e curvado porque o tempo deve ter-se curvado a ti e não num vice versa de memórias. Teimosamente cabelos longos, hoje cinzentos, porem livres como livre deve ser o teu estar por esta vida.
Eu, vadiando, curvado pelo mesmo tempo que me viu crescer e fazer coisas boas, grisalhei num escassear de cabelos, num apelo à terra que me curva como se tentasse me absorver, doendo-me aqui e ali por tentativa do contrariar este apelo.
24 de maio de 2021
não te disse adeus
E não te podendo dizer adeus fui-me perdendo por cada canto do porto seguro dela. Umas vezes pelo norte, centro ou sul, outras latitudes e não sei quantas longitudes.
Alturas houve em que eu só queria ir para casa, deixar-me de vagabundear neste mundo cheio de seres humanos e outros mais desumanos. Eu queria ter um lar onde não houvesse robots programados para nascer, crescer e desaparecer sem terem tempo para olhar, para ver e sentir.
Eu não queria mais ser um mais porque como bom passeante jamais esqueci os lugares, os sorrisos e os momentos por onde passei.
Ainda não foi desta que eu te disse adeus. Será certamente noutra vida, porque nesta não vejo hipóteses.
23 de maio de 2021
despaísei-me
Era manhã de outono e fazia frio que nem me passou pela cabeça um dia eu ia sentir assim. do meio de um nada eu cheguei ao teu porto seguro. Tu tinhas nascido aqui e ainda bebé tinhas ido ter comigo. Digo eu que acredito no destino e contra essas coisas eu não sou de contrariar. Agora era a minha vez de vir ter contigo. Tinha acabado de terminar a minha intensa luta interior. Ganhou a facção que não podia estar longe de ti. A outra, derrotada, lacrimejante, teve que acompanhar a vitoriosa. Consequências de lutas internas levam sempre a actos de violência e uma parte de mim sentiu-se arrancada do seu mundo. Mas quem perde cala e esse eu se calou, vencido por males de coração.
Um pedaço de papel me dizia onde morava um teu conhecido, um grande amigo do teu pai que havia ficado por cá. Por sorte nunca o perdi.
Mal refeito do susto temporal, de ver uma cidade grande que me dava sombra em todos os lados da rua, contrariando o meu ponto de partida ensolarado e térreo, a tremer de frio por mais casacos que tenha vestido, vou de papel em punho à procura. Pergunto uma, dias vezes e a rua encontrada. Mas alguém me podia ter dito que a rua tinha para aí uns 5 quilómetros. Eu não estava habituado a esta dimensão. Andei e os números iam mudando devagarinho. E havia ainda os A e B, quando não havia também o C.
Achei que o coração ia sair de dentro de mim. Era nervoso e era frio. Miscelânea cerebral. E se a morada estivesse errada.
Um pedaço de papel escrito a lápis de carvão num outono por aqui.
22 de maio de 2021
desinfantilizei-me
A minha família se perdia em discussão interna para saber o que estava a acontecer comigo. Notas subiram que até quase ficava no quadro de honra. Reclamações de comportamento deixaram de bater na porta de casa. Recados nos cadernos não havia mais. Vadiações nocturnas quase extintas. Também não precisa exagerar por isso o quase da frase anterior. De manhã era acordar cedo, matabichar, ir na praia ou só para o passeio depois duma pausa na varanda.
- Que é que este miúdo tem? ouvi a minha mãe perguntar na minha avó.
- Deve ter conhecido alguém que lhe pôs no lugar. disse a minha avó do alto dos seus anos de sabedoria.
Eu ouvi mas não me mostrei e sorri para mim. Estava orgulhoso mas ao mesmo tempo estava também preocupado. Não é saudável mudar assim tão radicalmente em tão pouco tempo, me dizia eu a mim.
Eu não queria deixar de aprender a lhe conhecer. Todos os instantes com ela me eram importantes. Com o pai dela aprendi a ser educado, fino no trato e subtil na afirmação da minha presença. Ele é o que eu queria ser quando crescer.
Nasceu a irmã dela. Diferença grande que a gente quando passeava eu me sentia parecia era tio ou... era assim como ser adulto ainda na adolescência.
Eu estou na fase em que quando olho as estrelas só a vejo a ela. Acho estúpido esta fase mas eu caí nela e vou dar a volta mais como?
21 de maio de 2021
des politico-me
Faz dois meses que foste para o teu lugar seguro. Acho chegaste bem pois más notícias não chegaram cá e essas não precisam de meios para voares ao destino. São dois meses que me cansei de olhar para a tua varanda, entrar na tua casa e vê-la vazia. Abro as janelas para ver se entras e nem uma alucinação. Assim me custa demonstrar e tentar esperar dar este amor. Este namoro tipo amizade com ausência duma das partes cansa porque sobra só para um.
Faz dois meses e eu me desconcentrei das outras actividades cívicas, políticas e laborais. A minha mente está no teu porto seguro que eu desconheço por completo. Arranjei mais uma luta interior para lutar, juntando às outras lutas que fui aprendendo que havia. Desconcentrado mas vigilante na trincheira do combate por ideias que não fazia a mínima ideia que tinha. Tive que aprender a libertar o meu pensamento duma formatação diária, constante e metódica para além de omissa em tantas premissas. Mas sinto que por paixão estou a perder o fulgor dessas outras actividades. Por amor despolítico-me.
Sanzalando
20 de maio de 2021
des futuro
Muitos futuros depois deste presente, desde que te recusas a olhar-me, eu me pergunto se algum dia deste teu universo sentiste a minha falta?
Neste presente, que ainda não vivemos o futuro da desunião, estudamos juntos, discutimos matéria, fazemos exercícios, multiplicamos ideias, velejamos, tiramos formação de formadores, sempre carregados de cumplicidade que não ultrapassa essa mesma cumplicidade.
Se me apetecia tocar na tua mão reprimo-me por educação, por medo ou apenasmente porque te gosto tanto que te acho intocável.
Se eu tivesse poder de adivinhação eu agora, olhando para a tua varanda ia pôr-me aqui a imaginar se naquele futuro, depois de tantos vendavais da vida, quando os telefones deixarem de ser de ligar à telefonista num levantar de aparelho e pedir para ligar à casa de, e passarem a ser uma coisa de pôr no bolso e que em poucos anos deixam de ser úteis, tem que se mudar e com ele vem a mudança da lista de contactos, o meu nome será apagado ou manterias por lá não vá ser necessário? Eu sei que nunca esperei nenhuma ligação tua, nunca soube por interposta pessoa que tu me procuravas ou querias saber de mim, mas isso é uma estória que neste presente não tem lugar, porque eu vou ao teu encontro, mesmo quando não estás à espera.
Tenho mesmo de deixar de saber que o futuro estará cheio de desilusões e viver cada presente como único.
Sanzalando
19 de maio de 2021
fui
Numa estória quase perfeita eu te diria que esta história de amor tem futuro. Todos estes anos seguidos de amor platónico me fizeram endeusar-te. Serena, calma, aluna de excelência. Não conheço nenhuma estória tua que não saia do padrão altamente desenhado previamente. Não deves ter um friso desviado no teu passado. Faz três anos e eu não encontrei um único ponto onde eu possa dizer aqui não estiveste bem. Em casa, no Liceu ou na rua, nada beliscado. Só posso ser feliz em todo o meu futuro.
Eu sei que não sabes os Lusíadas de cór como o Dr. Moura. Sei que não sabes que esta terra tem guerras lá nos confins do outro lado. Eu sou de cá eu não sei porque ninguém me diz ou se fala nas escondidas. Eu sei que há estórias muito escondidas e que não consigo desconder para te ensinar e ganhar um ou outro ponto.
Já li Satre, Morris West, Simone de Beauvoir, Jorge Amado, para além dos livros que me obrigam a ler no Liceu. Já ouvi José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Luis Cilia, para além das músicas que passam na rádio. Mas como é que com isto eu te vou impressionar. Vais-me dizer que é conversa mole de enganar. Não te vou dizer nada disto. Não vou beber este chá. Vou continuar a te gostar sem ter que estar em bico de pés para me veres.
Gosto das minhas camisas coloridas, dos meu chinelos de pneu feito, dos meus calções a dar para o largo. De ir na praia e te procurar e até tu chegares de ver as outras miúdas a me olhar e eu a fazer filmes mentais. Nunca falaste se a roupa me ficava bem ou se devia vestir assim ou assado. Eu sei que não sou do lado sanguito da cidade e não tenho mais sonhos para lá de ser feliz contigo.
Eu sou assim e vou fazer mais como? Gosto de te ver a jogar ténis de saia curta e todo em branco. Eu nem posso entrar no clube porque não tenho nem estatuto nem pinta de jogador de ténis. Vou continuar nesta minha rotina de ser um pobre que ama um luxo e desconsegue lhe dizer.
Na verdade nestes três anos fui mesmo muito feliz.
18 de maio de 2021
cacimbo
Cacimbou que nem apetece sair de casa. Setembro é lixado. Casaco vestido e estou eu na varanda, manhã cedo a ver se vais para o Liceu. Eu sei que vais na Mini-Honde e eu irei a pé, pelo que devia ter saído mais cedo para te ver lá chegar. Chegarei tarde mas irei descontraído pelo caminho, sem necessidade de olhar para trás ao mínimo ruído, real ou imaginário. Com este cacimbo só a ideia de te ver é que me alegra. Nesta manhã acordei com vontade de te escrever um poema. Não o farei por agora. Quero ver-te primeiro e no caminho para o liceu contrui-lo-ei.
Porque será que eu acordo com vontade de viver por ti? Deveria ser por mim. Isto no futuro, de muitas luas depois, vai-me custar caro, imagino eu. Quando eu for maduro, tropeçar nas rasteiras da vida, cair por outros rabos de saia, magoar e ser magoado, devo começar a compreender que com o espírito livre serei autosuficiente para viver. Mas terei que esperar futuros, porque neste presente eu só te olho e te vejo. Nos intervalos disso me desgoverno num ou outro rabo de saia que me dê conversa.
Mas nestes dias cinzentos de cacimbo, dias desperfumados, desbrilhados, eu amando em silêncio, acordo por ti, versejo por ti e desconsigo levar-me mais a sério.
17 de maio de 2021
eu e o Liceu
Hoje, e para variar este ano lectivo, temos aulas à tarde.
Não falto como deixei de faltar o ano passado. Mamede e tu são as melhores notas mas eu este ano tenho uma posta comigo: vou-vos ganhar ou pelo menos igualar. Tenho que te mostrar que eu valho-te. Tirando uma ou outra recaída, eu passei a ser estudioso e a ter tempo para preparar as aulas. Ainda não sou como tu que já estou a matéria toda deste ano, nem como o Mamede que sofre por notas. Mas por este andar eu chego lá, mesmo que não me esforce. Amor próprio, dizem os mais velhos. Dar nas vistas dizem os colegas admirados.
O Dr. Coutinho hoje pôs-me KO. A vocês os dois deu-vos bom e a mim suficiente mais?! Não pode ser. Protesto. Ele me diz que o meu passado vale mais que o meu presente. Tenho de lhe provar que está errado. Vá lá, desta vez não me fez o que me fez o ano passado. Deu-me BOM e escreveu a vermelho copiado. A desconfiança é muito feia. Agora tenho de provar que eu estou mudado? Não se vê no presente sorriso da minha cara? Querem mais o quê? Querem eu traga um cartaz a dizer que lhe gosto e foi por ela que eu estou assim que nem um novo tipo?
Eu vou ter que falar com o A. Sousa, o reitor desta coisa que chamam Liceu e que não está a ser honesta comigo. Não! Vou sorrir e vou fazer melhor na próxima nem que tenha que me esforçar mais do que nunca.
16 de maio de 2021
prisão perpétua
Por ali, do lado do teu porto seguro, onde me fui segurando pela paixão, por esse amor doentio, fui descobrindo que a gente não soube se amar. Eu sei que nunca te disse, mas imagino que tu, na nossa amizade cimentada, tu sabias, mas também não fizeste nada para segurar o que te parecia seguro. Isto é claro que sou eu a pensar, hoje passados muitos futuros pela frente. O teu coração não falava de modo compreensível para o meu.
Todos os dias eu ia na tua casa que ficava logo ali, 45 minutos de marcha rápida e três cigarros gastos. Conversávamos e divagávamos sobre tanta coisa que nunca foi do nosso futuro que não chegou a existir. Eu te tinha dado tudo e até apaguei o que havia de pior em mim, sorri quando me apetecia voltar para o meu lado adolescente, sair do teu porto seguro e voltar para as minhas aventuras que mal tinham começado e eu as parei.
Enfim, fui condenado no teu tribunal sem julgamento prévio e sem ter sido ouvido, a afastamento perpétuo, atado de mãos e pés à ignorância total de ti.
15 de maio de 2021
neblina de memória
Na nossa rua se ao fim de tarde parávamos a conversar juntava-se logo para além do eu e tu, o Manel Ferrão, o V. Pereira, o Amorim, a Helga e acho não era. E nos riamos de tanta baboseira junta. Não se passava nada e espremido não saía sumo, mas eramos felizes naquele passeio daquela rua.
Hoje, neste presente de muitos futuros depois, recordando todas aquelas pessoas que eram as nossa testemunhas se tivéssemos jurado o que quer que seja, iam dizer que a nossa troca de olhares era carinho em estado puro, era pensamento virgem que não tinha pesado em nenhuma consciência, que se tivesse havido beijos ou carícias seriam sublimes efeitos de memórias enfeitados.
Hoje, esses nossos amigos, se pudessem responder agora perante um qualquer juiz supremo lhe diria que a ausência de contacto entre nós nestes anos todos fora uma fantasia duma mente pecaminosa tal era a certeza que eu tinha que tínhamos sido feitos um para o outro.
Hoje toda a nossa estória reside numa neblina de memória.
Sanzalando
14 de maio de 2021
simples vida de reencontros a sós
Passados uns futuros bem largos te encontrei mulher feita e eu homem formado, acabado de formar num curso superior para espanto de muitos, incluindo família e até a mim mesmo. Verdade seja dita desde a minha adolescente mudança radical num mais voltei ao que era e antes pelo contrário. O problema eram as mesmas coisas, qualquer rabo de saia me distraía da caminhada que estava a fazer. Muitas vezes mudei de rumo, mudei caminhos e magoei quem me gostava e eu retribuía. Mas tantas vezes errei que algum dia eu acertaria, dizia eu para mim todas as vezes e, de todas as vezes lá estava a mudança de norte.
De mudança em mudança lá eu ia seguindo o meu caminho sem me desviar mais dessa faceta de bom estudante. Boa pessoa todos me diziam, também. Mas que defeito seria este. Devia ser defeito de fábrica. Só pode.
Mas estava eu a falar desse encontro e simpáticamente, como sempre foi o meu timbre, me aproximei de ti e te cumprimentei. Nada, nem um sorriso nem um estalo. Ignorância total. Eras tu, sem dúvida. Só podias fazer-me isso. Que esperava eu de ti conhecendo-te tão bem? Insisti e tu, surdamente continuaste e invisivelmente permaneci.
Desisti e afastei-me. O meu coração acelerado. Os meus olhos fixos em ti. A desfeita estava feita e eu lá dentro chorava. Te beijei desde a minha interiorização e de lágrima escondida continuei a olhar-te. Nem uma vez me procuraste com o olhar. Se me tivesses olhado eu ter-te-ia abordado novamente. Mas lá de cima da tua altivez nada aconteceu. Desisti e segui minha vida. Como sempre havia feito.
Vários rabos de saia depois novo reencontro. Mais maduro eu e tu mais senhora. Sim, Senhora que eu sabia. Com o meu garboso sorriso me aproximei, te pedi licença para te cumprimentar e rispidamente disseste:
- Só cumprimento quem conheço. Dizendo isto viraste costas e foste... até hoje não te voltei a encontrar.
Quase certo haverá mais futuro sendo certyo que nunca houve futuro opara o nós dois.
13 de maio de 2021
afoguei
Hoje me deixaste pendurado na minha solidão. Tinhas muitas coisas combinadas e não me deste tempo para poder estar contigo. Já faz dias que me disseste que hoje não nos veríamos. Assim foi. Certa, como sempre. Hoje passei o dia com uma secura na boca e um aperto do peito que nem te passa pela cabeça. Foste na tua mini-honda, que te vi partir, e não sei quando voltas. Eu fui na esplanada, fui no bilhar, mas em lado nenhum me senti eu. Estou desconfortavelmente só. Vai ser este o meu futuro? Não próxima vez que estivermos juntos eu te vou dizer o quanto é pesado um dia sem ti. Vês-me diferente porém não notas que é amor que eu tenho? Acho mudei demais o meu ser. Como é que eu vou fazer um acerto nas minhas rotações mentais? Se eu fosse um relógio acho ia ao Moreira para consertar. Se eu fosse um carro ia ao Abel. Mas quem pode me consertar o eu que se mudou tanto que nem o eu próprio se consegue identificar?
Hoje solidifiquei-me em solidão. Bati no fundo da tristeza isolada. Hoje perdi a essência de ser um ser livre que criei em anos de vadiagem. Afundei-me em ti num quase afogado de mim
12 de maio de 2021
fuga
E nas férias grandes eu fico assim numa submersão de dores de alma. Vou no planalto e tu ficas não sei por onde e a gente durante uma eternidade de tempo não se vê nem se fala, mesmo que essa eternidade só tenha a duração dum mês.
Esta ansiedade, esta ausência, esta coisa absurda afecta o meu corpo, a batida do meu coração, a secura da minha garganta e a minha capacidade de ser racional. Mudei e transformei-me num monstro de mim, numa amostra do que fui na minha curta e vadia vida. Como é que vou fazer mais para ter paz em mim? Quando é que eu vou ter luz para te dizer que eu carente e dolorosamente sofro por não conseguir dizer o quanto te gosto neste presente de agora.
Vou fugir deste terror interno.
Sanzalando
11 de maio de 2021
recordo-me
Hoje comemoro uma revolução que houve lá no canto que manda na gente. Ficámos por aqui contentes porque vamos começar a decidir quem somos, o que queremos e por onde vamos. Crianças adolescentes irresponsáveis optamos por beber todo o vinho que nos enviam desde lá desse canto que aqui não o podemos produzir. Fizemos festa. Percebemos que a revolução começara e os nossos corações começaram, a cantar as músicas da mudança.
Mais tarde deste presente, num futuro mais próximo, eu viria a perceber que começava aqui neste presente a minha destruição amorosa.
Fizemos as nossas opções, umas por conhecimento e outras apenas por paixão e quando entra esta sai a razão. Participámos activamente. Fomos escolhidos para isto e para aquilo. Pensei eu era importante. Os nossos encontros começaram a ser espaçados porque havia reuniões e comités. Mas a paixão ardia-me e eu procurava-te constantemente. O teu olhar chegava para eu saber de aprovação ou não.
Começou a confusão e o teu pai optou por te mandar para um porto seguro que era lá no canto que mandava nisto tudo.
Fiquei. Triste e consumido. Toda a solidariedade, todo o fervor se diluía na tristeza da solidão. Murchei como se fosse uma flor esquecida de ser regada. Entristeci a ponto de doer.
Sanzalando
10 de maio de 2021
passados desvividos
Me ponho a olhar-te numa quase nudez de pensamento. Todos os detalhes guardo na memória e com ela os vou perdendo gradualmente. Uns afastam-se pelo tempo que nos passou, outros apenas porque não era a verdade que eu memorizei, foi a fantasia. No futuro tão longe do hoje te vejo naquele presente alta e bela, resposta pronta e nenhuma vez te vi vacilar, seja no que fosse. Respostas erradas não me lembro, silêncios também não, desde que não fossem para mim. Lágrimas? não me lembro de nenhuma. Se calhar choraste como eu na escuridão do teu quarto. Quem irá saber?
Porque é que eu não te disse uma única vez que o meu amor por ti nunca iria acabar? Dizem ele nunca acaba, mesmo que hiberne, mesmo que ele pareça cansado, gasto ou de malas feitas. Porquê que eu neste presente era tão tímido e medroso de ser negado mais uma vez?
Não é porque o limite do chega chegou para mim, mas somente para exorcizar os meus passados desvividos
Sanzalando
9 de maio de 2021
divagando passados
Na sala de aula, no ano que me apanhaste, porque a minha vida tinha sido feita até aí mais vezes por ausências que por presenças, por lugares invulgares e até mesmo invisíveis, me mostraste com a tua voz simples porem cheia de autoridade, que havia uma outra versão de mim, actualizada e melhorada. Olhando neste futuro para esse presente até que tinhas razão e te agradeço ainda hoje eu ter descoberto o lado bom de mim, o que criaste ou simplesmente puseste à superfície.
Nessa sala de aula onde eu não sabia o respeito que me trouxeste e que se reflectiu no presente e nesse futuro que agora deu resultados.
Lembras-te de eu estar a lutar para ser uma das três melhores notas e ficava sempre em quarto? Claro que não te lembras porque não davas importância. Era-te natural ser a número um.
Lembras-te de insistires para ficar perto de ti, acho era na carteira de trás par tu poderes, com um simples olhar ou tossidela me colocares no meu lugar de mais atento? Claro que não pois era-te natural protegeres o teu vizinho.
Mas desde essa sala de aula eu criei sonhos, uns que funcionaram como impulso, mesmo os que ainda não cumpri ou não cumprirei porque expirou o prazo. Mas graças a ti ainda vou sonhando.
8 de maio de 2021
para trás
Olhando para os meus para trás e vejo que deixei muita coisa para os meus depois. Tanto foi que algumas coisas ainda por lá andam. Tarefas e sentimentos. Coisas simples e complicadas. Sentimentos e dores. Há depois que nunca hão-de vir, espero eu.
Olhando para trás eu quero trazer alguns depois para o agora, porque agora acho que tenho tempo para refazer, mesmo que possa ser tarde de mais.
Olhando para esses atrás, onde deixei as tuas palavras, os teus conselhos e as muitas chances de ter sido feliz doutra forma que não a que com que fui, não sei se quero voltar-me a um reinício porque sei que não teria tempo para repor todo tempo outra vez.
Perdi lá para trás tantas cidades da mina Imaginação, tentos mapas da minha Indignação que não quero ter a tentação de ter uma cidade sem opção.
7 de maio de 2021
por lugares seguros insegurei-me
E depois de teres partido para o tal de porto seguro eu escrevi mil palavras que nunca enviei, porque nem sabia para onde o fazer e nem havia essa coisa de correio a funcionar. Mas se eu tas mandasse tu ias ler? Desconsigo saber porque ia estar a viver na minha Cidade de Fantasia e isso eu não gosto. O que vai acontecer amanhã, hoje é fantasia. O agora é hoje e eu sei que no futuro eu ia ter razão. Fantasiei.
Mas o que eu sei é que nesse tempo eu te reinventei na minha cabeça. Imaginei cenários, imagineis finais, alguns felizes e outros infelizmente infelizes. Nas palavras até ouvi canções que acho tinham feito para nós. Eu revi o momento da despedida vezes sem conta e a mudança do meu pensamento que fez clique nesse instante. Reergui-me atabalhoadamente num desastre de ser e estar, não me afoguei nas lágrimas porque tive a desgraça de viver intensamente cada momento, esquecendo de me olhar por dentro, de ver a minha luz e passei a ter decisões de instante que até parecia máquina fotográfica a fixar o momento exacto sem exactidão.
Depois da tua partida com dores silenciosas e latejantes no peito, eu desejei o momento de deixar para trás todos os instantes, todos os medos, todas as felicidades, todas as marcas que o tempo deixou no tracejado que eu tinha percorrido e fechando os olhos eu estava a teu lado algures no teu lugar seguro.
Sabes que esqueci das ruas onde esfolei joelhos e canelas, dos ringues onde caí de patins, dos muros onde conversei com amigos, das portas onde namorisquei amigas. Eu só queria partir para o teu lugar seguro e não descansei enquanto não o fiz.
Sanzalando
6 de maio de 2021
para mais tarde recordar
Sabes aqueles longos passeios de carro em fim de tarde, que a gente dizia ser a voltinha dos tristes, pela nossa cidade que era pequenina e que todos os dias a gente descobria coisas novas? Tenho saudades de ir ao teu lado e olharmos, como se fosse a primeira vez e víamos que a chaminé tinha um rabisco na telha, que havia uma argola não sei onde, que a telha era diferente, que a roupa estava pendurada. O teu pai punha sempre a música baixinho e ouvíamos a nossa rádio. Era o Formula POP ou a Roda Livre que dava nessa hora. Lembras-te que nessa altura a gente não tinha problemas? Lembras-te que nesses momentos a felicidade estava estampada na minha cara? Claro que não. Eras diferente de mim nesse campo. Pelo menos eras o que mostravas. Tu te mantinhas distante e sorrias das coisas que eu via ou imaginava ver. Acho era a tua mãe quem mais gostava de me ouvir nas minhas observações vagabundísticas. Tu me afetavas positivamente e eu te era perfeitamente neutro. Lembrei-me agora duma aula de física com a Ora-Bolas.
Eu sei que podia dizer aqui mais umas mil palavras que tu não ias olhar-me e me dizer um simples olá. Ias manter-te na tua de nunca me teres conhecido num recanto da tua vida. Mas eu tenho testemunhas que fui um sonhador, carregado de ideias e sem palavras. Concluí que o amor não faz ferida, o que deixa cicatriz foi ter-me esquecido de dizer-te que te gostava. Mas o tempo fez sarar e deixar esta saudável lembrança, com o título para mais tarde recordar
4 de maio de 2021
por mim
Tento procurar caminhos que me levem a algum lugar. Às vezes o lugar não é encontrado, mas não é por falta de o procurar. Podemos mesmo não saber onde estamos e precisamos de paciência para nos encontrar. Se a mente não se conecta com o coração onde vamos estar? Perdidos em nós ou em alegorias da alma. Se calhar o melhor é voltar atrás e começar de novo. Vou-me procurar para saber para onde devo ir.
Já percorri caminhos, longos caminhos, que não me levaram a lado nenhum. Já saltei etapas e caí em lugares comuns. Já fiquei sem me mexer para ver se me imortalizava mas o tempo passou por mim. Não há volta a dar mas posso dar voltas que a algum lugar eu vou parar. Não desisto de procurar, nem que seja apenas por mim.
3 de maio de 2021
talvez seja assim
Talvez seja uma falta de ver beleza da minha parte, ou de não conseguir ver todas as perspetivas, ou insensatez, ou apenas seja só atabalhoamento meu. Meter os pés pelas mãos e vice-versa seja uma desqualidade minha. Talvez seja só mesmo uma insensibilidade para perfumes, cheiros ou pequenos pormenores identificativos através do olfato que me fazem falta ou cometer uma ou outra.
Com isto tudo pergunto-me o que tem de errado estar aqui neste lugar, sentado, a ver o tempo que passa? Eu sei que o tanto que me move é como o que me deixa estar aqui.
Não sou brinquedo nem ando isolado no estado liquefeito de estar feito em nada. O pior é que eu não podia ser doutra forma. Vou na introspecção ver se encontro a batalha que gostava de ganhar, mesmo sem guerrear.
2 de maio de 2021
primaverou-se o cérebro 40
Uns riem e outros choram. Seria monótono e cansativo se todos fizessem o mesmo ao mesmo tempo, diria o Machado de Assis, mas uma boa distribuição de lágrimas e gargalhadas faz girar o mundo e a vida de cada um. Eu tive esta sina de te gostar quando se calhar já nem sabes o meu nome nem a minha simples existência. Se calhar nunca notaste que a minha defesa à tua indiferença foi perder-me em dias da vida, em figuras estilizadas de ausência, em perdas furtuitas de lugares comuns.
Não te esqueças que obcequei-me no início da adolescência, que te ausentaste para segurança no ponto alto do meu amor, que deixei de saber-te na flor duma descoberta incrível que era eu existir para além do mais.
Não sei se te lembras que eu vim dum ponto negro da vida para uma claridade que desconhecia por completo, numa altura da vida que eu não sei se era a melhor para mim. Mas posso dizer-te que por ti melhorei que nem eu acreditava seria alguma vez possível. Nota que quando digo que melhorei não estou a falar por falar, estou mesmo a dizer-te que me tornei num ser que amadurecidamente cresceu, responsabilizou-se e tornou-se gente com letra grande e sem vaidade.
Desconhecidamente me despeço com amizade que sempre trouxe comigo, com a saudade do tempo passado mas não perdido.
FIM
1 de maio de 2021
primaverou-se o cérebro 39
Sento-me na varanda da minha casa e aproveito que minha avó não está para me sentar na cadeira de baloiço dela a olhar para a tua casa. Imagino-te passar por trás do rendilhado parece é crochet da tua varanda. Imagino-te vestida de calças à boca de sino e camisa justa.
Já sei, estou a ter um ataque idiota. Daqui a pouco estou a imaginar que demos um beijo na cara num cumprimento mais intimo. Na verdade não sei se alguma vez o fizemos, o que sei é que escrevo o teu nome em todos os cantos da minha alma, desenho o teu sorriso sem lábios em todos os meus cadernos, ouço-te a música que não cantas nem tocas nos meus ouvidos horas sem fim.
Sei que virei vida ridícula. Mudei-me num avesso de mim anterior. Será que fui fruto dum amor intemporal?
Num futuro eu vou saber, porque neste presente eu diria que mais uma vez eu morri de amores, se me conseguisse ver de fora.
Subscrever:
Mensagens (Atom)