Sabes aqueles longos passeios de carro em fim de tarde, que a gente dizia ser a voltinha dos tristes, pela nossa cidade que era pequenina e que todos os dias a gente descobria coisas novas? Tenho saudades de ir ao teu lado e olharmos, como se fosse a primeira vez e víamos que a chaminé tinha um rabisco na telha, que havia uma argola não sei onde, que a telha era diferente, que a roupa estava pendurada. O teu pai punha sempre a música baixinho e ouvíamos a nossa rádio. Era o Formula POP ou a Roda Livre que dava nessa hora. Lembras-te que nessa altura a gente não tinha problemas? Lembras-te que nesses momentos a felicidade estava estampada na minha cara? Claro que não. Eras diferente de mim nesse campo. Pelo menos eras o que mostravas. Tu te mantinhas distante e sorrias das coisas que eu via ou imaginava ver. Acho era a tua mãe quem mais gostava de me ouvir nas minhas observações vagabundísticas. Tu me afetavas positivamente e eu te era perfeitamente neutro. Lembrei-me agora duma aula de física com a Ora-Bolas.
Eu sei que podia dizer aqui mais umas mil palavras que tu não ias olhar-me e me dizer um simples olá. Ias manter-te na tua de nunca me teres conhecido num recanto da tua vida. Mas eu tenho testemunhas que fui um sonhador, carregado de ideias e sem palavras. Concluí que o amor não faz ferida, o que deixa cicatriz foi ter-me esquecido de dizer-te que te gostava. Mas o tempo fez sarar e deixar esta saudável lembrança, com o título para mais tarde recordar
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