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23 de maio de 2021

despaísei-me

Era manhã de outono e fazia frio que nem me passou pela cabeça um dia eu ia sentir assim. do meio de um nada eu cheguei ao teu porto seguro. Tu tinhas nascido aqui e ainda bebé tinhas ido ter comigo. Digo eu que acredito no destino e contra essas coisas eu não sou de contrariar. Agora era a minha vez de vir ter contigo. Tinha acabado de terminar a minha intensa luta interior. Ganhou a facção que não podia estar longe de ti. A outra, derrotada, lacrimejante, teve que acompanhar a vitoriosa. Consequências de lutas internas levam sempre a actos de violência e uma parte de mim sentiu-se arrancada do seu mundo. Mas quem perde cala e esse eu se calou, vencido por males de coração.
Um pedaço de papel me dizia onde morava um teu conhecido, um grande amigo do teu pai que havia ficado por cá. Por sorte nunca o perdi. 
Mal refeito do susto temporal, de ver uma cidade grande que me dava sombra em todos os lados da rua, contrariando o meu ponto de partida ensolarado e térreo, a tremer de frio por mais casacos que tenha vestido, vou de papel em punho à procura. Pergunto uma, dias vezes e a rua encontrada. Mas alguém me podia ter dito que a rua tinha para aí uns 5 quilómetros. Eu não estava habituado a esta dimensão. Andei e os números iam mudando devagarinho. E havia ainda os A e B, quando não havia também o C. 
Achei que o coração ia sair de dentro de mim. Era nervoso e era frio. Miscelânea cerebral. E se a morada estivesse errada. 
Um pedaço de papel escrito a lápis de carvão num outono por aqui. 


Sanzalando

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