Sanzalando em Angola
vou passear 29-11-2003 11:56 Forum: Liceu Américo Tomás
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Amanhã e despois não se admirem se não virem o meu mataco aqui, sentado na esquina do Fonseca, na esplanada do Oásis ou noutro sítio da cidade das miragens. VOU DE FÉRIAS. Sabem que é isso. Não tenho que ir no RCM, não tenho que ir aturar o Dr. Coutinho, o Dr. Ezequiel e muito menos tenho que aturar as rondas do Dr.António Sousa - Buldog - para ver se estou a fumar ou a malandrar. Num estou preocupado se chove ou se faz sol, porque cacimbo vai fazer de certeza. Tem uma coisa que as férias me custa: são sempre curtas. Mas afinal tem outra que é ir do fim da Rua dos Pescadores à estação dos Caminhos de Ferro a pé e de mala pesada com os meus calções, calças à boca de sino e camisas brancas e de milflores pra passar um mesito na terra das mapundeiras. Mas que querem é o meio mais barato e seguro do puto viajar sosinho. 10 horas da noite já estou no CFM. O comboio parte só às 23 horas mas a minha velha é assim, não quer que eu perca o comboio. E tenho que levar camisola porque ela tem frio. Quando me deixa ir de Drezine é que é bem melhor mas..desta vez vou de comboio mesmo. Já arranjei um bom lugar. Perto da janela para de noite ver o mato. Num tem lua mas também não faz mal. O Sr. Alves, chefe da estação, 1,5 m de altura para 40 Kg de peso, na sua farda impecávelmente branca e seu boné de almirante já tem o apito na boca para que a máquina diesel se ponha em marcha. Solavanco, outro e mais outro, cada um mais forte que o anterior e lá foi o comboio ganhando velocidade. Olha o Bairro da Nação, a Aguada e reduz porque tem a ponte do Bero, que me disseram que foi feito com dinheiro falso - que me importa se dá para eu passar? Comboio que não está cheio não. Tem uns bailundos que vão regressar a casa. Conheço Simão que vai para Quilingues. Tem 3 anos que trabalha como doméstico aqui. Tem 20 anos. Deve ter ido no registo de bicicleta. Mas se diz é porque tem. Queria aprender a ler mas como não tem aulas de noite que ainda não aprendeu. O Saco do Giraul e seus montes de ferro e carruagens de carga que dem ser umas 10000, exagero eu porque não deu tempo de contar. Este comboio agora só para no Caraculo. Foi o que disse o sr. Alves. Mas que mentiu eu sei porque no Saco tivemos que parar porque estava para chegar daqueles comboios de 2 km e três máquinas que vêem de Cassinga carregados de ferro. 1/2 hora é pouca coisa. Mais solavancos e lá arrancou. Este não faz pouca terra pouca terra, é mesmo barulho de diesel. Tirei do saco de papel a minha sandes de fiabre e eu e o meu companheiro Simão que comemos. Ele não trás mala, trás trouxa. Mais umas conversas e adormecemos. Um safanão e acordei. Não é caraculo não, não vejo as casaas redondas inventadas não sei por quem. Que passa senhor revisor? Temos que esperar mais comboio de ferro. Que está ém, disse eu. Seria igual se fosse doutra maneira. E debaixo da minha janela passam 3 máquinas diesel e 200 vagões de carga, tum tum tum tum tum característico. Lá se foi mais meia hora. Que importa se não tenho relógio e nem pressa? Paragem oficial no Caraculo. Dá para esticar as pernas e endireitar o corpo. Nova partida. Olha o morro maluco. Tanto está à direita como à esquerda e passam horas e lá está ele. Está sempre. Deve ser mesmo maluco. Adormeci. Simão nem eu pelo Caraculo. Agora é Vila Arriaga. Aquela mangueira grande mesmo na estação é o que eu mais gosto. Temos que ficar 1 hora aqui porque vêem dois comboios a descer a Chela, mais um de ferro e outro igual a este. Quem disse foi um senhor que entrou. Proveitei e acordei o Simão e fomos à mangueira. 'Saiam daí miúdos' não sei quem disse mas que saimos foi. Agora subir a Chela. Da última vez contei 1400 curvas. Uma para a direita segue-se uma para a esquerda e vice-versa. Bué de tempo mesmo para subir aquilo. Que durmo nada. Cabeça de Simão parece badalo de relógio com as curvas. Que pena à noite não puder olhar para longe. É mesmo bonito esta terra. Agora paragem na Mapunda. Já tá amanhecer. Mais um comboio de ferro que tem aqui. E agora semhor revisoe este comboio pára na estação principal ou vai lá par Santo António. 'Santo António'. Que estou frito. Fizeram estação nova lá nos confins, mesmo debaixo do dedo grande do Cristo Rei. Quando sai do comboio dei um abraço ao Simão e disse: ESTOU DE FÉRIAS
vou passear 29-11-2003 11:56 Forum: Liceu Américo Tomás
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Amanhã e despois não se admirem se não virem o meu mataco aqui, sentado na esquina do Fonseca, na esplanada do Oásis ou noutro sítio da cidade das miragens. VOU DE FÉRIAS. Sabem que é isso. Não tenho que ir no RCM, não tenho que ir aturar o Dr. Coutinho, o Dr. Ezequiel e muito menos tenho que aturar as rondas do Dr.António Sousa - Buldog - para ver se estou a fumar ou a malandrar. Num estou preocupado se chove ou se faz sol, porque cacimbo vai fazer de certeza. Tem uma coisa que as férias me custa: são sempre curtas. Mas afinal tem outra que é ir do fim da Rua dos Pescadores à estação dos Caminhos de Ferro a pé e de mala pesada com os meus calções, calças à boca de sino e camisas brancas e de milflores pra passar um mesito na terra das mapundeiras. Mas que querem é o meio mais barato e seguro do puto viajar sosinho. 10 horas da noite já estou no CFM. O comboio parte só às 23 horas mas a minha velha é assim, não quer que eu perca o comboio. E tenho que levar camisola porque ela tem frio. Quando me deixa ir de Drezine é que é bem melhor mas..desta vez vou de comboio mesmo. Já arranjei um bom lugar. Perto da janela para de noite ver o mato. Num tem lua mas também não faz mal. O Sr. Alves, chefe da estação, 1,5 m de altura para 40 Kg de peso, na sua farda impecávelmente branca e seu boné de almirante já tem o apito na boca para que a máquina diesel se ponha em marcha. Solavanco, outro e mais outro, cada um mais forte que o anterior e lá foi o comboio ganhando velocidade. Olha o Bairro da Nação, a Aguada e reduz porque tem a ponte do Bero, que me disseram que foi feito com dinheiro falso - que me importa se dá para eu passar? Comboio que não está cheio não. Tem uns bailundos que vão regressar a casa. Conheço Simão que vai para Quilingues. Tem 3 anos que trabalha como doméstico aqui. Tem 20 anos. Deve ter ido no registo de bicicleta. Mas se diz é porque tem. Queria aprender a ler mas como não tem aulas de noite que ainda não aprendeu. O Saco do Giraul e seus montes de ferro e carruagens de carga que dem ser umas 10000, exagero eu porque não deu tempo de contar. Este comboio agora só para no Caraculo. Foi o que disse o sr. Alves. Mas que mentiu eu sei porque no Saco tivemos que parar porque estava para chegar daqueles comboios de 2 km e três máquinas que vêem de Cassinga carregados de ferro. 1/2 hora é pouca coisa. Mais solavancos e lá arrancou. Este não faz pouca terra pouca terra, é mesmo barulho de diesel. Tirei do saco de papel a minha sandes de fiabre e eu e o meu companheiro Simão que comemos. Ele não trás mala, trás trouxa. Mais umas conversas e adormecemos. Um safanão e acordei. Não é caraculo não, não vejo as casaas redondas inventadas não sei por quem. Que passa senhor revisor? Temos que esperar mais comboio de ferro. Que está ém, disse eu. Seria igual se fosse doutra maneira. E debaixo da minha janela passam 3 máquinas diesel e 200 vagões de carga, tum tum tum tum tum característico. Lá se foi mais meia hora. Que importa se não tenho relógio e nem pressa? Paragem oficial no Caraculo. Dá para esticar as pernas e endireitar o corpo. Nova partida. Olha o morro maluco. Tanto está à direita como à esquerda e passam horas e lá está ele. Está sempre. Deve ser mesmo maluco. Adormeci. Simão nem eu pelo Caraculo. Agora é Vila Arriaga. Aquela mangueira grande mesmo na estação é o que eu mais gosto. Temos que ficar 1 hora aqui porque vêem dois comboios a descer a Chela, mais um de ferro e outro igual a este. Quem disse foi um senhor que entrou. Proveitei e acordei o Simão e fomos à mangueira. 'Saiam daí miúdos' não sei quem disse mas que saimos foi. Agora subir a Chela. Da última vez contei 1400 curvas. Uma para a direita segue-se uma para a esquerda e vice-versa. Bué de tempo mesmo para subir aquilo. Que durmo nada. Cabeça de Simão parece badalo de relógio com as curvas. Que pena à noite não puder olhar para longe. É mesmo bonito esta terra. Agora paragem na Mapunda. Já tá amanhecer. Mais um comboio de ferro que tem aqui. E agora semhor revisoe este comboio pára na estação principal ou vai lá par Santo António. 'Santo António'. Que estou frito. Fizeram estação nova lá nos confins, mesmo debaixo do dedo grande do Cristo Rei. Quando sai do comboio dei um abraço ao Simão e disse: ESTOU DE FÉRIAS
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