Fui á caça 01-11-2003 01:20 Forum: Liceu Américo Tomás
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Hoje fui á caça. Quer dizer, me levaram no JEEP para o meio do mato. Também não era assim muito mato. Sabes, meu irmão, a minha mãe tem um Mini Morris 850, por isso não costuma me levar para além do aeroporto, e por motivos que não vos digo nunca foi a Porto Alexandre de carro, nunca passou do estádio do Benfica, no outro lado só foi até à Kipola, em dia de peregrinação. Também não sei se algum dia foi à Torre do Tombo. Resumindo, sou mesmo menino da cidade e hoje fui ao mato. Se vocês pudessem me ver viam a minha chapala toda cheia de alegria. Fui à caça. Há uns dias vi o Beto Reis com um leão no seu Land Rover. Tava todo morto mas era lindo, imponente, magestoso. Eu ouvia as estórias na Oásis do Tó Kuribeca, do Sr. Miranda, do Turra e sei mais quem e ficava de boca aberta a pedir mosca. Mas eu hoje fui à caça. Fui com o Tó Kuribeca, o sr. Júlio Santos, a filha dele e o Ferrão. Fomos à caça. Me levantei ainda era noite. Tava cacimbo mas eu não me importei. Eu estava quente. Passei na Kipola, passei o Giraul, eu já tava a andar bué, mas queria lá saber. Eu ia para a caça! Chegamos ao mato, não era a floresta do Maiombe, mas era mato cerrado para mim. Se me deixassem lá ainda hoje podiam andar à minha procura. Eu estava no mato. Comecei a ver Gazelas. Tão bonitas aos saltos. Não era Bolshoi, era melhor. Tantas e tão lindas. Eu adoro isto. Me deixem ficar aqui. Eu sento ai na pedra só a olhar nelas. Tem Zebras ali. Não, eu gosto mais das Gazelas. Uma Impala. Tito puxa duma arma e pum. Impala ao fundo. Que arma tão pesada. Isto deve dar cabo dum tanque de guerra. Todos se riram. Que importa. Eu estava na caça. Eu estava feliz. Fomoas seguindo uma pegadas. Era disto, não era daquilo. Quero lá saber. Me levem só. Cada vez tinha mais mato. Ué! ali tem deserto. Ficamos aqui a dormir. Saca da Impala. O Tó começou a descascar a Impala, a cortar a carne. Os putos foram apanhar lenha. Que grande assada. Me deixaram beber uma cerveja. Ué, tou grande! Tava a começar a ficar escuro e se fez um jogo. Só vale matar coelhos com 'supositório' - ele tem que estar a correr e dar tiro por trás. Me deram uma 22 qualquer coisa. Eu tremia com o peso, da responsabilidade, se entenda. O primeiro pum e coleho já tá, outro pum e coelho vira. Minha vez. cadê coelho? Tá ali um, pá! Onde, Onde Onde? Já vi. Tá parado e parado não vale. Foje sacana. Não digas isso e dispara. Não senhor eu jogo limpo. Atiro pedra e ele fugiu. Parece que ainda tou a ouvir o riso dele na gozação comigo. Ali tá outro. Fechei um olho e pum. Quando abri os dois olhos eu vi uma coisa aos saltos. Me disseram para ir buscar. Eu fui! E ele saltava. Puxei o pé atrás e záz. Ainda hoje tenho a cicatriz no dedo grande do pé. Nunca mais vi o coelho, mas não esqueço as estrelas e os passarinhos que vi. Acertei com o dedão numa pedra. Mas, meu irmão, eu fui à caça. Fui com o Tó Kuribeca, o sr. Júlio Santos, a filha dele e o Ferrão.
Não era Março e também não chovia. Mas eu fui à caça.
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Hoje fui á caça. Quer dizer, me levaram no JEEP para o meio do mato. Também não era assim muito mato. Sabes, meu irmão, a minha mãe tem um Mini Morris 850, por isso não costuma me levar para além do aeroporto, e por motivos que não vos digo nunca foi a Porto Alexandre de carro, nunca passou do estádio do Benfica, no outro lado só foi até à Kipola, em dia de peregrinação. Também não sei se algum dia foi à Torre do Tombo. Resumindo, sou mesmo menino da cidade e hoje fui ao mato. Se vocês pudessem me ver viam a minha chapala toda cheia de alegria. Fui à caça. Há uns dias vi o Beto Reis com um leão no seu Land Rover. Tava todo morto mas era lindo, imponente, magestoso. Eu ouvia as estórias na Oásis do Tó Kuribeca, do Sr. Miranda, do Turra e sei mais quem e ficava de boca aberta a pedir mosca. Mas eu hoje fui à caça. Fui com o Tó Kuribeca, o sr. Júlio Santos, a filha dele e o Ferrão. Fomos à caça. Me levantei ainda era noite. Tava cacimbo mas eu não me importei. Eu estava quente. Passei na Kipola, passei o Giraul, eu já tava a andar bué, mas queria lá saber. Eu ia para a caça! Chegamos ao mato, não era a floresta do Maiombe, mas era mato cerrado para mim. Se me deixassem lá ainda hoje podiam andar à minha procura. Eu estava no mato. Comecei a ver Gazelas. Tão bonitas aos saltos. Não era Bolshoi, era melhor. Tantas e tão lindas. Eu adoro isto. Me deixem ficar aqui. Eu sento ai na pedra só a olhar nelas. Tem Zebras ali. Não, eu gosto mais das Gazelas. Uma Impala. Tito puxa duma arma e pum. Impala ao fundo. Que arma tão pesada. Isto deve dar cabo dum tanque de guerra. Todos se riram. Que importa. Eu estava na caça. Eu estava feliz. Fomoas seguindo uma pegadas. Era disto, não era daquilo. Quero lá saber. Me levem só. Cada vez tinha mais mato. Ué! ali tem deserto. Ficamos aqui a dormir. Saca da Impala. O Tó começou a descascar a Impala, a cortar a carne. Os putos foram apanhar lenha. Que grande assada. Me deixaram beber uma cerveja. Ué, tou grande! Tava a começar a ficar escuro e se fez um jogo. Só vale matar coelhos com 'supositório' - ele tem que estar a correr e dar tiro por trás. Me deram uma 22 qualquer coisa. Eu tremia com o peso, da responsabilidade, se entenda. O primeiro pum e coleho já tá, outro pum e coelho vira. Minha vez. cadê coelho? Tá ali um, pá! Onde, Onde Onde? Já vi. Tá parado e parado não vale. Foje sacana. Não digas isso e dispara. Não senhor eu jogo limpo. Atiro pedra e ele fugiu. Parece que ainda tou a ouvir o riso dele na gozação comigo. Ali tá outro. Fechei um olho e pum. Quando abri os dois olhos eu vi uma coisa aos saltos. Me disseram para ir buscar. Eu fui! E ele saltava. Puxei o pé atrás e záz. Ainda hoje tenho a cicatriz no dedo grande do pé. Nunca mais vi o coelho, mas não esqueço as estrelas e os passarinhos que vi. Acertei com o dedão numa pedra. Mas, meu irmão, eu fui à caça. Fui com o Tó Kuribeca, o sr. Júlio Santos, a filha dele e o Ferrão.
Não era Março e também não chovia. Mas eu fui à caça.
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