A Minha Sanzala

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14 de fevereiro de 2004

RECORDAR (6)

vou passear 05-11-2003 19:35 Forum: Liceu Américo Tomás

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Tudo bem para todos.
Já lanchei, pão com manteiga e café com leite. Quem fez? Foi avó. Antão avó serve só para ver se já estudaste? Não, tem de contribuir para o crescimento do neto. Como já lanchei vou dar uma volta na cidade. Desço pela minha rua, sim, a dos Pescadores. Na esquina dos Fonsecas está ninguém por isso vou seguir. Na Oásis só estão os cotas, Trindade da Alfândega, Figueira das Ameijoas, Bento, Zé Malcriado de Sousa do grémio, tem muito palavão aqui por isso é melhor mesmo seguir minha viagem. Andar a pé faz bem na saúde. Nunca vi Dr. Garrido a andar a pé, não. Não me borreçam, estou a ver a montra do Jorge. Tem novidades, roupas novas...Mas no Graça Mira tem mais - essa é na rua das Hortas e eu ainda não cheguei lá, por isso é melhor não pensar alto - faz confusão nos outros. Me deixa mas é fugir. Tá a vir aí o "Faria das Baleias", com aquela samarra cheia de alfinetes, que antes de se sentar no seu banco privativo perto do "Quiosque do Faustino", de manhã, ía dar milho às baleias. Tá quieto, vou dar à sola. Teve de certeza a beber o seu copo no quisosque do Faustino, na av. do Bonfim. Me desculpem mas tenho mesmo medo dele. Me contaram muitas estórias dele. Não fico para ver. Amanhã ou depois eu vejo a montra, também não muda tão cedo. Corri com sete pés até à Drogaria Rosa. Tem taxis ali. Estou seguro, mas também cansado. Vou na tipografia do Zé Côco sentar a bunda e respirar. Como tá sor Zé? sem tirar o cigarro, matarratos diga-se, me respondeu 'Bem, e tu chuinga' Sempre me chamou assim. Tou de descanço. Me veio à lembradura coisas que os pré-cotas me contaram e que eu não sei se conheci. Mas me contaram com tanto realismo que já não sei se fui eu ou se foram eles que viveram. Além do Faria das Baleias, tem também o Domingos, que era cego desde que se lembram todos, mas a todos ele conhecia só de ouvir falar. Não enganava uma úniva vez, tem o "Bacia", que morava no Moinho Velho e azul num terreno vagabundo entre a casa antiga do Zeca Bauleth e a do Rui Torres, tem o "Cabéças" que dançava em frente do cinema do Ôrico, o Cine Moçâmedes, tem o "Angelo", irmão do Locas (cauteleiro), pescador "Então Angelo há pêxe ou não", "Óh pêxe no mar tá em barda" respondia sempre, o Locas tocava com a ponta da língua na testa. Toda a gente sabia quando o Angelo estava no cinema. Começava a gritar para avisar o estrela do filme que os bandidos estavam à espera dele.
Bem, tá na hora de seguir viagem. Eu não tenho relógio, mas tenho tempo e sempre me disseram que tempo é dinheiro. Vou já virar aqui, depois de ver a Lusolândia. Pelo Banco de Angola não vou. Vou ver a montra das Noivas, o Moreira relogoeiro, a DTA. Vou virar para cima, na rua das Hortas. Olha a loja do Passa-Fome. Tem tudo, desde prego a pau, bicicleta a fogareiro, ali tem.
Mas cadê esta gente que não tá ninguém na rua? Tá sair gente da Farmácia Portugal. A Kitanda do Torres já está fechada. Cheguei no Graça Mira. Loja linda. Mas tá caro. Sapato lindo, mas também tá caro. Também não quero comprar nada. Hoje só estou a viajar pela minha cidade. Papelaria Couto - tanta coisa bonita para a escola. lápis de côr, caderno de apontamentos. Vou ver o Ford Escort na Robert Hudson.
(Te lembras disto tudo meu irmão?
Me lembro pois, foi aqui que crescemos)
amanhã....não vai chover e vou contar o resto da minha viagem

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